TESTEMUNHO DO PE. ANTÓNIO JANELA
25 de fevereiro de 2022

Para o Jornal O Carrilhão

Cónego Armindo Garcia – o grande amigo

No caso de alguém que parte deste mundo e me é muito querido, seja por laços de sangue, seja por laços de amizade, nunca digo “falecimento” – isso, pode significar terminado, acabado, ponto final… – prefiro, antes, dizer “passamento” porque também é algo de mim próprio que “passa” para a eternidade, tendo a viva convicção que não é simplesmente o fim de alguém, pois voltaremos a encontrar-nos na Casa do Pai, tal como o Filho, Jesus Cristo, nos promete. 

Conheci o jovem Armindo Garcia, em 1959, quando me integrei no mesmo curso de Filosofia, no Seminário dos Olivais, em preparação para o ministério sacerdotal. Tornamo-nos, desde então, colegas e amigos, colaboradores em múltiplas actividades no Seminário. Ordenados presbíteros na Sé de Lisboa, na mesma data (15 de Agosto de 1965), durante aqueles primeiros 5 anos de ministério, tão intensos quanto marcantes, pertencemos à mesma equipa pastoral - “os padres da (Rua) Martens Ferrão” - como professores de Religião e Moral, em diversos liceus de Lisboa, e como assistentes religiosos da Acção Católica - Juventude Escolar Católica (JEC) - coordenada pelo também saudoso Padre Alberto Neto, o verdadeiro mestre que foi, desde essa altura, uma referência decisiva na nossa amizade e labor pastoral.

Já desde o Seminário dos Olivais e ao longo destes sessenta anos, quando os encargos pastorais nos foram dispersando, para além de contactos ocasionais e de encontros diocesanos, das reuniões mensais do Cabido Patriarcal e, anualmente, do nosso querido Curso de  Seminário, a que fomos sempre fiéis, sempre quis reservar, no Verão, alguns dias de férias para juntos poder "pôr a escrita em dia”, como dizíamos. 

Tempos fortes, esses, de uma profunda amizade fraterna em que partilhávamos na convivência diária, as refeições, a oração, o Pão da Eucaristia, os passeios e o “discernimento” da nossa vida pessoal e eclesial, recordando pessoas e acontecimentos marcantes da nossa vida e pondo em comum projectos pastorais, como ainda veio a acontecer já com o Padre Armindo pároco na Ericeira. Aí, pude reconhecer mais uma vez como era a sua “proximidade” com os residentes - esse traço tão característico da sua personalidade - e o acolhimento, tão afável, que lhe dispensavam. Isso mesmo transparece nos diversos testemunhos de antigos alunos e antigos paroquianos, que ficaram sempre seus amigos, como li por ocasião da notícia do seu passamento. Alguém me referia, há um ano, que o Pe. Armindo: “deixou obra!”. Sim, obra material ao serviço da evangelização nas paróquias por onde passou; mas, sobretudo, obra existencial - aquela que nos toca no sentido mais profundo da vida: o testemunho da Pessoa, Mensagem e Salvação que é Jesus Cristo, Morto e Ressuscitado!

Comoveram-me muito as celebrações das exéquias e da missa do 7º dia, sobretudo, a celebração final às portas do cemitério da Ericeira. Aquela multidão, de todas as idades, que ali se juntou e que nunca caberia na igreja edifício, era a prova patente de quanto o Pe. Armindo era estimado na Paróquia de que foi pastor desde 2006.

Uma última palavra de reconhecido agradecimento ao novo pároco, Pe. Manuel Tiago Fonseca pelo cuidado posto, até ao pormenor, na preparação das celebrações presididas pelo Senhor Patriarca e o Bispo Dom Daniel, amigos pessoais do Pe. Armindo. Sempre ouvi dizer nos bastidores da clerezia: “Coadjutor, nem sê-lo, nem tê-lo”. Se, porventura, isso é uma "regra", temos aqui uma clara excepção. “Foi com o Cónego Armindo que aprendi a ser padre” confidenciou a alguém o Pe. Tiago. Este coadjutor foi, até ao fim, um tão dedicado e amigo colaborador do seu pároco. Testemunhou-o, de forma tocante, na sua intervenção final na tomada de posse como novo pároco da Ericeira, na missa do 7ºdia do seu antecessor, daquele de quem nos despedimos agradecidos, dizendo eu interiormente: “Que o Senhor da Vida te acolha a ti, Armindo, que bem procuraste segui-Lo servindo os outros, e que pela Sua misericórdia nos possamos reencontrar na Alegria da Casa do Pai”.

Pe. António Janela