«Nossa Senhora da Boa Viagem fez mais um milagre!»
22 de agosto de 2022

Queridos amigos,


No rescaldo das festas em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, escrevo-vos para contar como foi bom celebrar a Padroeira dos Pescadores da Ericeira! Que alegria!

Começo por recordar história desta festa. Tradicionalmente, no lugar onde hoje se encontra a capela de S. António já havia uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem. Era a ela que os pescadores recorriam nos momentos de aflição no mar. É muito comovente constatar como somos herdeiros da fé desses corajosos homens do mar, que nas dificuldades reconheciam a sua vulnerabilidade e a necessidade de ser salvos. Como expressão de gratidão por tantos cuidados de Nossa Senhora, mais tarde (talvez no séc. XVI?) foi ali construída a capela, lugar dos encontros da Confraria de Nossa Senhora da Boa Viagem, havendo um registo mariano datado de 1634 sobre o arco triunfal e também a data de 1664 na porta da capela. É significativo também que a capela servisse simultaneamente como farol, para assinalar a entrada dos barcos na Praia dos Pescadores. Ainda hoje essa é missão da Igreja: ser farol para iluminar a vida de todos com a luz de Cristo. Com a crescente devoção a Santo António, a capela tinha dois oragos. Com o início da República, num período de grande perseguição a Deus e à Igreja, alguns quiseram destruir a capela, havendo mesmo quem a quisesse tornar um elevador ou uma fábrica de conservas de peixe. Nesse período, houve um ataque em janeiro de 1912, tendo sido vandalizada e roubada a antiga imagem em madeira de Nossa Senhora da Boa Viagem. Atirada a imagem ao mar, de modo surpreendente se resgatou a mão de Nossa Senhora da Boa Viagem, que o mar devolveu, como que lembrando que a Mãe sempre nos dá a Sua mão, mesmo quando não A tratamos tão bem. Finalmente, em 1947, ao iniciarem-se estas festas tradicionais, uma família quis oferecer uma nova imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, datada do séc. XVIII, que desde então é venerada na capela.

Esta imagem tem numa mão o Menino Jesus e noutra mão o barco dos pescadores. É esse também um dos símbolos da Igreja: uma barca. Deste modo, nas festas este ano procurámos assinalar várias vezes os dois amores de Nossa Senhora, Jesus e a Igreja, que somos todos nós, seus filhos. Temos Mãe! Num tempo em que a Igreja é infelizmente notícia por escândalos (como os aviões, que só são notícia quando caem), precisamos de renovar esta certeza de que Nossa Senhora acompanha sempre a Igreja e nos convida a permanecer nela como católicos. Precisamos de estar mais comprometidos na Igreja, unidos na oração e na amizade uns aos outros, disponíveis para fazer e acolher a correção fraterna e para a purificação e conversão necessária, de modo que não aconteçam mais crimes.

As festas tiveram uma enorme adesão, certamente graças ao esforço da Comissão de Festas ao longo de todo o ano – até com uma nova imagem de comunicação e presença activa nas redes sociais! – mas também, e de forma espantosa, pela própria capacidade que Nossa Senhora tem de atrair o coração de cada um. Foi muito importante começar as festas com a visita da imagem de Nossa Senhora aos lares da vila, nomeadamente ao lar da Santa Casa da Misericórdia, ao lar de S. Lourenço e ao lar de Santa Teresinha. Em cada lar, encontrámos pessoas com um testemunho pessoal marcante de Nossa Senhora da Boa Viagem. Recordo especialmente o padre David – 27 anos como pároco a celebrar esta festa e 62 anos de padre celebrados connosco no dia 15 agosto! – e a senhora Maria de Fátima, que preparou a capela e o andor de Nossa Senhora da Boa Viagem durante mais de 10 anos. Quisemos reunir a Comissão de Festas na Missa na capela na tarde de dia 16, lembrando como o nosso serviço nas festas é resposta ao serviço que Nossa Senhora nos presta primeiro. Porque Deus nos serve, porque Ela nos serve, então nós servimos também. E aqui devo agradecer à Comissão de Festas pelo FANTÁSTICO SERVIÇO ao longo destes meses e destes dias tão exigentes e cansativos: MUITO OBRIGADO! E agradeço também a todos os voluntários que nestes dias se juntaram para colaborar e a tantos que nos ajudaram nas procissões (transportando andores, decorando as capelas, andores e janelas, saudando a passagem de Nossa Senhora, preparando o tapete de areia, autoridades acompanhando a procissão, etc).

Entre animados concertos e bailaricos, comida e bebida e artesanato e outras atracções, tivemos Missa em cada dia da Festa e saímos em procissão na noite de sábado e na tarde de Domingo: é o fim-de-semana maior do ano! Como foi bom percorrer as ruas a rezar o terço e ver o porto de pesca e os barcos decorados, a praia e a vila com um mar de gente, de noite e de dia. Como dizia o Bispo Dom Daniel no final da procissão de Domingo: «Nossa Senhora da Boa Viagem fez mais um milagre: não podendo ir ao mar, trouxe o mar até terra, com este mar de gente». E o Toni Porras, em nome de todos os pescadores, deixou a promessa de voltarmos a tentar ir ao mar no próximo ano! Nossa Senhora da Boa Viagem, rogai por nós.

Termino esta crónica com o desafio que Dom Daniel nos deixou na Missa de festa no Domingo: começar um grupo Stella Maris aqui na Ericeira, juntando pescadores, surfistas e muitos outros ligados ao mar. Será um dos propósitos para o próximo ano porque, como dizia Fernando Pessoa, «Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o Céu»! Vamos a isso!

Despeço-me com um pedido: rezem pelos jovens da Ericeira e Carvoeira que irão em missão até Cabo Verde de 24 agosto a 7 setembro. É a MISSÃO BOAVISTA! Eu irei com eles e na próxima crónica terei muito para contar. Deus vos abençoe!

Um abraço amigo do padre Tiago