«GLÓRIA A DEUS NA IMENSIDÃO»
22 de setembro de 2022


Queridos amigos,

Como prometido, neste mês de setembro escrevo-vos sobre a Missão Boavista que decorreu entre 24 agosto e 7 setembro, na ilha da Boavista, em Cabo Verde, com jovens das nossas paróquias da Ericeira e Carvoeira.

A aventura começou num desafio lançado pela Irmã Beta Almendra, missionária comboniana da Ericeira, agora em missão no Sudão do Sul. A sua liberdade, generosidade, alegria e entusiasmo da fé eram tão cativantes que muitos choraram nas várias festas de despedida em setembro e outubro de 2020. Ao anunciar a partida para o Sudão do Sul, a irmã Beta despertou-nos a todos para a urgência e o dever de partirmos também em missão porque todos somos importantes para Deus. Urgência e dever apressados e agravados pela pandemia, que trouxe maiores desigualdades e injustiças sociais e que provocou ainda uma certa letargia e desânimo nos jovens, assim precisando estes de um convite maior que os despertasse e levantasse!

Definimos a meta: realizar uma missão no verão em Cabo Verde, na ilha da Boavista, nas comunidades da paróquia de S. João Baptista, cujo pároco é o Padre Manuel Évora, meu amigo dos tempos de estudo e formação do seminário de Caparide e Olivais. Em conversa com o Padre Manuel, apontámos um caminho conjunto, envolvendo os jovens das nossas paróquias.

Convocados os jovens cabo-verdianos e os nossos jovens da Ericeira e Carvoeira, sob o acompanhamento precioso da Elsa e do Artur, começámos um caminho de preparação para a Missão Boavista, com muitos encontros de team-building, formações, experiências de voluntariado, orações, encontros em zoom, arraiais e outras angariações de fundos. No verão de 2021, não havendo ainda condições de segurança por causa da pandemia, fizemos a Missão Carvoeira durante uma semana de agosto, com tantos bons frutos e muita diversão.

Finalmente, ao longo deste ano de 2022, juntaram-se as condições para realizar a missão, com muita perseverança, graças do Céu e apoios de benfeitores. No dia 24 agosto, lá partimos com entusiasmo os 24 missionários aqui da Ericeira e Carvoeira: dois casais, Elsa e Artur, Heloísa (com um bebé na barriga!) e Marcos, mais duas crianças (o Afonso e o Mateus), 17 jovens e eu.

À chegada a Cabo Verde e ao Fundo das Figueiras, fomos surpreendidos por dezenas de crianças que cantavam e dançavam junto ao salão paroquial e à igreja. Ficámos instalados na creche das Irmãs espiritanas. Logo nessa tarde, celebrámos Missa com o Pe. Manuel e os jovens e aprendemos a cantar «Glória a Deus na imensidão» e encheu-se a nossa alma de alegria! Tornou-se como um hino da missão e cantámos muitas vezes assim! Conhecemos a Ângela e a Soraia, que cozinharam para nós todos os dias ao pequeno-almoço, almoço e jantar. Estiveram connosco mais alguns jovens diariamente e realmente experimentámos um acolhimento fantástico de todos, crianças, jovens e mais velhos naquela comunidade. 

Estabelecemos a nossa estratégia de missão: geralmente, de manhã, a «Missão Levanta-te» com as crianças e, de tarde, a «Missão Anda» pela rua, porta-a-porta ou fazendo outros serviços necessários nas comunidades do Fundo das Figueiras, João Galego ou Cabeço dos Tarafes. Na base da missão estava a oração: a cada dia tivemos a oração das laudes de manhã, a Missa à tarde e a partilha de avaliação da missão à noite.

Gostava de partilhar três histórias que me marcaram nesta missão. 

A primeira história é o baptismo da Luana, uma menina que conhecemos no dia 24 agosto, à chegada ao Fundo das Figueiras. Ao pegar na Luana ao colo (as crianças andavam sempre ao colo dos missionários!!), perguntei se ela já tinha sido baptizada. Disseram-me que não. Então anunciei, meio a brincar, que iríamos baptizar a Luana na Missa de Domingo, dia 28. Nos dias seguintes, fui insistindo com a mãe Nilza, dizendo que era realmente importante baptizar a Luana, mas ela foi dizendo que não seria possível. Finalmente, no sábado, a nossa cozinheira Ângela começou uma angariação de fundos e bens entre toda a comunidade e os missionários e a mãe Nilza lá aceitou que a pequena Luana fosse baptizada, porque Deus, toda a comunidade paroquial e os missionários também desejavam o seu baptismo. Todos participaram na festa do baptismo, na Missa de Domingo, numa alegria contagiante! Então recordei como é tão bom ser cristão, filho amado de Deus e membro da Igreja, herdeiro da fé e verdadeiramente acolhido como irmão de tantos. E juntos demos «glória a Deus na imensidão!».  

A segunda história que gostaria de partilhar aconteceu nessa mesma tarde de Domingo. Com a angariação de fundos e bens, preparou-se um lanche para a Luana e todos os convidados da festa do Baptismo. Com a mesa cheia de doces e bolos, pediu-se a todas as crianças para se sentarem e esperarem no seu lugar, tendo os missionários a tarefa de levar os doces ao pé das crianças, para elas tirarem um bocadinho para o seu prato. Eu também levei um prato com línguas de gato e outro prato com pipocas e fui ao pé de cada criança. A certa altura, tendo j+a distribuído tudo, fiquei com os dois pratos vazios, mas quis continuar a ir ao pé de cada criança. Muitas, ao verem-me, sorriam por eu já não ter nada para lhes dar… e outras começaram a tirar dos poucos doces que tinham recebido para colocar nos meus pratos! Este gesto das crianças pobres da Boavista comoveu-me e fez-me perceber, mais uma vez, que a sua generosidade não estava tanto na quantidade que davam, mas na simplicidade e no amor com que elas partilhavam. Era tanto! E assim demos «glória a Deus na imensidão!».

Conto ainda uma última história, que manifesta o poder da oração. Na ilha da Boavista já não chovia há muito tempo e a seca é um problema que atinge duramente as populações, obrigando ao racionamento de água. Ao longo dos dias de missão, fomos ouvindo muitas lamentações e pedidos para que chovesse. Assim, correspondendo a esses pedidos de ajuda, organizámos a celebração de duas Missas e duas procissões, pedindo o dom da chuva. A Missa e a procissão em honra de Nossa Senhora da Piedade (em João Galego) e a Missa e a procissão em honra de S. João Baptista (no Fundo das Figueiras) manifestaram a nossa fé em Deus, que nos atende sempre na oração e nos poderia dar a chuva que pedíamos. Pode parecer esquisito que a comunidade local e estes nossos jovens missionários, alguns já universitários e com formação superior, recorram à oração. Porém, perante certos problemas que nos deixam impotentes, não há técnica que os resolva, mas somente a fé e a oração trazem esperança e paz e acreditamos que Deus realmente se importa connosco. Como cantávamos (em modo rap!) muitas vezes em Cabo Verde: «vocês são importantes para Deus»! Para nossa surpresa, depois das Missas e procissões, veio este autêntico milagre da chuva abundante e muitos vieram à rua espantar-se com a ribeira a transbordar. Cantavam, dançavam e molhavam-se, agradecendo a bondade de Deus e o dom da água! E mais uma vez demos «glória a Deus na imensidão!».

Os nossos bravos missionários ainda permaneceram mais uma semana em missão, regressando apenas no dia 7 setembro. Eles têm muitas mais histórias para contar. Estou muito orgulhoso por eles e tenho a certeza que os frutos da missão – a amizade entre eles, o crescimento na fé, a vontade de servir e o serviço já realizado e tão bem feito, a alegria de continuar a missão no dia-a-dia – serão visíveis também aqui na Ericeira e na Carvoeira. E já ansiosamente esperamos os jovens cabo-verdianos no próximo verão, na Jornada Mundial da Juventude, cá em nossas casas!

Na paróquia, já olhamos para a frente e estamos a preparar o novo ano pastoral. Assim, aproveito para vos fazer um convite: venham conhecer ao vivo estes missionários e muitos outros jovens e o resto da nossa comunidade! Iremos ter a festa de início do novo ano no Parque de Santa Marta nos dias 8 e 9 de outubro, com Missa campal às 11h. Contamos convosco!

Deus vos abençoe.  

Um abraço amigo do padre Tiago