Queridos amigos,
O mês de setembro ficou marcado pela despedida de D. Manuel Clemente e pela entrada solene do novo Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério. Depois de 10 anos como Bispo da nossa diocese, D. Manuel Clemente completou os 75 anos e pediu a resignação ao Papa Francisco.
Não escondo a minha admiração e estima pelo nosso Patriarca Emérito. Permitam-me escrever sobre ele, pois foi muito importante no meu caminho de discernimento no Seminário dos Olivais e na confirmação da vocação sacerdotal. Regressado à nossa diocese de Lisboa em julho de 2013 depois de servir como Bispo do Porto, D. Manuel sucedeu ao Cardeal Patriarca D. José Policarpo e conduziu-nos ao longo desse Ano da Fé. Na altura, eu era seminarista e recordo uma grande celebração diocesana de encerramento do ano da fé, em novembro de 2013 em Peniche, com um trecho da homilia: «Isto mesmo creio e espero, como fruto dum Ano da Fé traduzido em caridade. Porque a nossa fé não tem nada de imaginário ou abstrato, antes se focaliza inteiramente na vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, o Filho de Maria e nosso Cristo. E, assim focalizada, não tira os olhos de quanto aconteceu do presépio à cruz, aí mesmo apercebendo os primeiros fulgores da ressurreição garantida. E, se assim nos fixamos, também assim o experimentamos, verificando como o Espírito vai reproduzindo em nós a vida, morte e ressurreição do mesmo Cristo.» (homilia da Missa de 24 novembro 2013).
Em janeiro de 2014, na sequência de um Conselho Presbiteral, o nosso Patriarca surpreendeu-nos e convocou um Sínodo Diocesano. Movidos pelo seu «sonho missionário de chegar a todos», durante mais de dois anos, o ritmo da diocese foi marcado pela receção da exortação pós-sinodal Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) do Papa Francisco, com 5 capítulos a determinar 5 períodos de reflexão em comunidade e milhares de pequenos grupos. Também no Seminário dos Olivais acompanhámos o caminho de preparação do Sínodo Diocesano com grande entusiasmo, tendo nós, seminaristas da altura, a tarefa de recolher todas as respostas dos grupos de reflexão e fazer as sínteses em longas noites de trabalho e discussão apaixonada. Essa preparação deu lugar à tão aguardada assembleia sinodal em dezembro de 2016 e depois à implementação de um programa de ação pastoral nos anos seguintes, indicado na Constituição Sinodal de Lisboa: «Na Constituição Sinodal de Lisboa, hoje oferecida à Diocese, apresenta-se um conjunto de opções que são outras tantas coincidências com a primordial opção de Deus. Sim, de Deus, que, como aconteceu com Maria Imaculada, nos quer santos e em missão, em comunidade e crescimento na fé, em cada família e na resposta fiel à vocação pessoal; tudo sinodalmente levado, pois só em conjunto faremos o que devemos.» (homilia da Missa de 8 dezembro 2016).
Com grande rasgo e coragem, D. Manuel empenhou-se por trazer a Jornada Mundial da Juventude para Lisboa, sonho que uniu tantos jovens, voluntários, famílias, instituições e benfeitores e, depois de vários anos de trabalho e um longo caminho, finalmente se concretizou neste verão com a visita do Papa Francisco e de mais de 1 milhão de jovens do mundo inteiro. Por ocasião da Missa de abertura da JMJ, disse-nos então, fazendo alusão ao dinamismo do caminho: «Maria levava já no seu ventre o “bendito fruto” que era Jesus. Os cristãos levam-no também, espiritual mas realmente, porque o recebem na palavra, nos sacramentos e na caridade onde Ele se oferece. E como acreditamos em Jesus como caminho para Deus, caminhamos com Ele para O levar aos outros. No mesmo impulso que levava Maria, no mesmo Espírito que nos leva a nós. A caminho!» (homilia de 1 agosto 2023).
A título pessoal, recordo com gratidão como no ano do Jubileu da Misericórdia, em novembro de 2015, foi D. Manuel Clemente que me ordenou diácono e depois sacerdote em junho de 2016. Lembro conversas particulares importantes ao longe desses anos de seminário, especialmente quando me aconselhou «a confiar e a não estorvar a acção de Deus que acontece por meio de nós e da nossa pequenez». Poucos dias depois da ordenação, chamou-me ao Patriarcado, em S. Vicente de Fora, para me anunciar que seria vigário-paroquial na Ericeira e Carvoeira, colaborando com o saudoso cónego Armindo, que me veio a ensinar tanto. Lembro a visita a Roma com os padres novos, em junho de 2022, onde nos alertou para as dificuldades que se avizinhavam e para a importância da fraternidade sacerdotal. Nas visitas regulares à Ericeira e Carvoeira, para festejar Nossa Senhora da Nazaré ou a Senhora da Boa Viagem, para presidir à reabertura da igreja da Misericórdia ou para nos confirmar na fé pelo sacramento do Crisma, nas chamadas telefónicas frequentes para cuidar do seu estimado amigo cónego Armindo e saber de mim, para me nomear pároco das duas paróquias após a sua morte (fevereiro de 2021) ou para me autorizar a partir na missão de apoio aos refugiados ucranianos (março de 2022), em tantos gestos pude experimentar o seu cuidado de Bom Pastor, com sabedoria e prudência. Por tanto, quero aqui agradecer publicamente ao nosso Patriarca Emérito e espero em breve contar com a sua visita às nossas paróquias.
Ao despedirmo-nos de D. Manuel e ao acolhermos o novo Patriarca D. Rui Valério, somos convidados a um passo de maturidade na fé, confiando no Espírito Santo que nos dá um novo Pastor, que queremos conhecer e seguir. D. Rui conhece muito bem a nossa vigararia de Mafra por aqui ter servido na Escola das Armas, enquanto Bispo das Forças Armadas. O novo Patriarca tem um coração muito mariano – foi ordenado padre monfortino – e certamente com ele virão novas boas ideias, novos bons métodos, novas boas pessoas com cargos de responsabilidade diocesana, mas sempre o mesmo amor e a mesma fidelidade a Jesus e à missão que Ele confia à Igreja. Por ocasião do novo Patriarca, queremos aproveitar para dar a conhecer as raízes da história do nosso Patriarcado, com uma conferência mensal sobre os Patriarcas, organizada em conjunto com a Santa Casa da Misericórdia da Ericeira. Começaremos já em outubro, na igreja da Misericórdia.
Termino com uma partilha pessoal: depois de um mês de agosto tão bom e exigente – a seguir às festas em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, ainda fui à Suíça subir as montanhas de Kandersteg com os nossos Escuteiros – pude descansar nas primeiras duas semanas de setembro, na companhia de mais 30 padres de várias dioceses do país. Fiquei impressionado com a alegria e a vitalidade física e espiritual desses sacerdotes! Um deles, o padre Geraldo Morujão, com 93 anos, partilhou o milagre de estar vivo, dez anos depois de ter sido dado como morto numa piscina na Terra Santa. E com o seu irmão, padre José de Fátima, de 85 anos e cheio de genica, fui passear até à aldeia da Drave! Com este entusiasmo dos padres maiores, aproveitei estes dias para ir preparando o novo ano pastoral, com muitos convites e novos desafios, continuando a extraordinária “onda” da JMJ. Precisamos da vossa ajuda e contamos convosco!
Para o próximo mês conto mais.
Que Deus vos abençoe!
Um abraço amigo do padre Tiago