De Fr. Billy Swan,

Publicado em “word of fire”, 9 de Dezembro de 2024   

Os elementos metálicos, como o cobre e o ouro, são excelentes condutores de eletricidade. A sua capacidade condutora é diretamente proporcional à sua pureza: quanto mais puros forem estes metais, melhores condutores se tornam. Por outro lado, as impurezas diminuem o fluxo da corrente e provocam resistência. Esta simples analogia com o mundo natural convida-nos a entrar no mistério da Imaculada Conceição de Maria, cuja festa celebrámos recentemente. Mistério muitas vezes confundido com o da conceição de Jesus e historicamente um ponto de fricção ecuménico, mas que quando é entendido em termos da identidade de Jesus e do papel de Maria como arquétipo de toda a Igreja, transforma-se numa janela através da qual vemos a beleza de uma vida humana irradiante da graça de Deus e de unidade a Ele no amor.  

Em primeiro lugar, a Imaculada Conceição tem certamente a ver com Maria, com a sua vocação única de mãe do Salvador e com o facto de ter sido “enriquecida por Deus com os dons próprios de tal função” (Lumen Gentium, 56). No texto da proclamação de Pio IX em 1854, Maria foi preservada do pecado original por “uma graça singular e privilégio de Deus Todo-Poderoso e pelos méritos de Jesus Cristo” (Catecismo da Igreja Católica, 491). Na linguagem dos Padres da Igreja, tal como Eva, a mãe de todos os vivos, foi criada imaculada por Deus antes da queda, assim também Maria, a nova Eva e mãe de todos os cristãos, foi criada imaculada e assim permaneceu durante toda a sua vida. Nas palavras do anjo Gabriel, ela era “cheia de graça”. Ao contrário de Eva (e de Adão), a natureza humana de Maria permaneceu sem pecado, porque o pecado à partida, nunca fez parte da natureza humana. O pecado corrompe a natureza humana, enquanto a graça de Deus a sustenta e a torna irradiante com a beleza que Deus lhe deseja Por isso, a festa da Imaculada conceição é um momento para honrar Maria como alguém singularmente dotada de uma graça especial que a preparou para ser um vaso honorífico, sem pecado, do qual nasceria o seu filho ,também ele isento de pecado.  

O mal é sempre um veneno, não eleva o ser humano, mas degrada-o e humilha-o.  

Mas, como arquétipo, encontramos em Maria a essência de toda a Igreja, que nos indica a vida de santidade e o que ela significa. É Ela que nos encoraja a “apresentarmo-nos irrepreensíveis diante do Senhor, como Ele nos quis desde o princípio” (cf. Col 1, 21; Ef 1, 4). A melhor explicação que alguma vez li sobre este significado mais amplo e eclesial do dogma da Imaculada Conceição foi dada pelo falecido Papa Bento XVI ,a 8 de dezembro de 2005. Como habitualmente, baseou -se na reflexão sobre a condição humana e observou como todos nós estamos manchados com “esta gota de veneno chamada pecado original”. O efeito, desta intoxicação, afirma é de certa maneira pensar que o pecado é inevitável “pelo menos em parte, que precisamos dele, para experimentar a plenitude do ser. . . . . Pensamos que um pouco de diálogo com o mal, mantendo para nós mesmos uma certa de liberdade contra Deus, é basicamente uma coisa boa, talvez até necessária”.  

Todos nós nos podemos reconhecer neste tipo de acordos e de duplos pensamentos. Queremos estar bem com Deus, mas receamos aproximar-nos demasiado dele com medo do que Ele nos possa pedir para Lhe entregar. Por isso, deixamo-nos levar pela mediocridade e levamos uma existência rastreira, com a nossa vida espiritual, na melhor das hipóteses, a arrefecer até à mornidão. Outra forma de descrever esta dinâmica é justificar para nós próprios que “sou um pecador” e que inevitavelmente pecarei. Sim, somos de facto pecadores, mas essa constatação pode ser uma máscara para nos absolvermos da responsabilidade pelos pecados que cometemos ao mesmo tempo que revela o nosso fraco empenho em viver uma vida de santidade.

Mais uma vez, o Papa Bento XVI afirma-o com toda a clareza: “O mal é sempre tóxico, não eleva os seres humanos, mas degrada-os e humilha-os. Não os torna maiores, mais puros ou mais ricos, mas prejudica-os e menospreza-os”. Em seguida, aborda o tema da liberdade humana, que identifica como a raiz de todos os nossos receios de nos deixarmos aproximar de Deus, nervosos por podermos ter de renunciar a ela. Ele ensina:  

“Isto é algo que deveríamos aprender no dia da Imaculada Conceição: a pessoa que se abandona totalmente nas mãos de Deus não se torna um fantoche de Deus, um “sim” aborrecido; não perde a sua liberdade. Só a pessoa que se entrega totalmente a Deus encontra a verdadeira liberdade, a grande imensidão criadora da liberdade do bem. A pessoa que se volta para Deus não se torna mais pequena, mas maior, porque através de Deus e com Deus torna-se grande, torna-se divina, torna-se verdadeiramente ela mesma”.  

Aqui, o Santo Padre identifica a luta da nossa época e o bloqueio para a possibilidade de muitos se tornarem crentes - se eu crer no Deus cristão, tenho de renunciar a um pouco da minha liberdade. Mas, como sugere a festa da Imaculada, com o exemplo de Maria, “se deixarmos Cristo entrar nas nossas vidas, não perdemos nada, nada, absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade é que se revela verdadeiramente o grande potencial da existência humana. Só nesta amizade experimentamos a beleza e a libertação” (Papa Bento XVI, Homilia na Missa de início do seu Ministério Petrino, 24 de abril de 2005).  

Mas, nas palavras da própria Maria a Gabriel, também nós podemos perguntar: “Como é isso possível? (Lc 1,34). Como é que podemos ter menos medo de perder alguma coisa e aprender a viver numa amizade mais profunda e confiante com o Senhor? Como posso aprender a ser mais intolerante com o pecado na minha vida e descobrir a beleza da santidade? A resposta remete-nos para o mistério e a natureza do amor. Porque se acreditamos no amor de Deus por nós, então confiamos que Deus renovará a nossa liberdade e a nossa alegria. E porque o seu amor está próximo e acessível, a sua ação acalma os nossos medos. Nas belas palavras de S. João Crisóstomo:  “Tal como o calor faz expandir as coisas, assim é o dom do amor para abrir bem os corações. É uma virtude calorosa e luminosa. . . [O amado vagueia sem medo no âmago do coração da sua amada” (Homilias sobre a 2ª Carta aos Coríntios, 13.1-2).  

Como alguém cujo imaculado coração foi inundado pelo amor de Deus, Maria está diante de nós como um sinal de conforto, de encorajamento e de esperança. Tal como a corrente eléctrica passa melhor através de certos metais puros, também nós nos tornamos tanto mais condutores eficazes da graça e do poder de Deus quanto menos o pecado fizer parte da nossa vida. Aqui reside a aventura de uma vida; detestar o pecado, amar a santidade e abraçar a beleza que flui de uma alma apaixonada por Deus - a mesma beleza que vemos em Maria.  

Termino com as palavras do Papa Bento XVI, naquela maravilhosa reflexão que deixou à Igreja na festa da Imaculada Conceição, em 2005, quando imaginou Maria a dizer-nos:

  “Tenham a coragem de ser audases com Deus! Experimentem! Não tenham medo Dele! Tenham a coragem de arriscar com fé! Tenham a coragem de arriscar com bondade! Tenham a  coragem de arriscar com um coração puro! Comprometam-se com Deus e então verão que é precisamente assim que a vossa vida se tornará ampla e leve, não aborrecida, mas cheia de surpresas infinitas, porque a bondade infinita de Deus nunca se esgota!”  

Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!

Tradução livre de

Maria do Rosário H. Mc kinney