Queridos amigos,
Neste ano de Jubileu, neste mês de fevereiro, escrevo-vos três histórias.
A primeira história aconteceu na Missão País na Carvoeira, no final de janeiro. Entre os 58 missionários estavam o Tomás e o Vasco. Tinham sido colegas na escola a vida toda e envolveram se numa briga violenta na festa de finalistas do 12º ano. Depois disso, nunca mais se cruzaram, tendo seguido cada um o seu caminho em diferentes universidades. Por sorte ou azar ou por providência de Deus, entre tantas outras possíveis Missões, calharam os dois nesta mesma Missão na Carvoeira entre 19 e 26 janeiro. Logo no primeiro dia, o desconforto era visível e eu próprio pensei se não seria boa ideia sugerir a algum deles deixar a Missão. Acabei por perceber ali uma oportunidade: se Deus os juntava naquele grupo de missionários, era preciso promover a reconciliação e havia uma secreta esperança. Durante a semana, fui «pescando» quase todos os missionários para uma confissão, conversa ou conversão. Às tantas, chamei o Tomás e no final da sua confissão, disse-lhe: «Tomás, falta uma coisa. Estás disposto a pedir desculpa ao Vasco?». O Tomás, com muita humildade, respondeu-me: «eu estou disposto e sinto que preciso mesmo disso, sim… mas não sei se o Vasco aceitará falar comigo depois do que lhe fiz…». Disse-lhe que eu iria conversar com o Vasco e se ele estivesse disponível, iria juntar os dois para poderem falar. Chamei depois o Vasco para a confissão e no final perguntei-lhe: «Vasco, se o Tomás pedisse para falar contigo para te pedir desculpa, estarias disponível para perdoar?». O Vasco respondeu-me que sim. Então juntei logo os dois para a conversa. Começámos por rezar juntos o Pai Nosso e então disse-lhes para conversarem sobre o que tinha acontecido, enquanto eu ficaria ali perto a rezar por eles. Passados dez minutos, vieram ter comigo com cara animada! Então disse-lhes: «A vossa briga foi pública, por isso a vossa reconciliação também convém que seja pública! Hoje à noite vou pedir-vos para dar um testemunho na vigília de oração.» Assim aconteceu e nessa noite muitos se comoveram ao ouvir a história da reconciliação do Vasco e do Tomás. A Esperança levanos a ser capazes de perdoar e a ser capazes de acreditar no perdão que nos é concedido e que nos liberta. Esperando em Deus, tornamo-nos também capazes de esperar mais dos outros!
A segunda história aconteceu no dia 13 fevereiro, no dia dos meus anos. Cada vez gosto mais de fazer anos e desta vez pude festejar os 39 anos com muitos Paroquianos, com os jovens missionários da Missão País e também com a minha Família. De manhã, depois de um mergulho na praia dos Pescadores, celebrei Missa na Santa Casa da Misericórdia da Ericeira, com o nosso querido Padre David e com tantos idosos. Aproveito a sublinhar como os idosos de hoje são muito modernos e já não cantam apenas as músicas tradicionais como o “Malhão, Malhão”, mas gostam de cantar Xutos & Pontapés e outras típicas canções dos anos 80 e aguardam a nossa visita, pois são autênticos guardiões da Esperança! Depois celebrei Missa com os jovens da Missão País na capela da Universidade Católica e fui almoçar com eles. Os jovens são motores de esperança e têm um atrevimento extraordinário! No regresso, cruzei-me na rua com a Érica, uma jovem da nossa paróquia que já não vinha à Missa há muito tempo. Ofereci-me para lhe dar boleia de regresso à Ericeira. Pelo caminho, conversámos muito sobre Deus, a fé e a vida cheia de pequenas e grandes coincidências. Enquanto falávamos no carro sobre as coincidências, recebi precisamente uma chamada do Toni Porras, em alta voz, em que ele contava ter ficado impressionado com a coincidência dessa manhã, quando me tinha encontrado na minha corrida matinal. E o Toni dizia: «há coisas que um gajo não consegue explicar». Essas coisas são delicadezas de Deus e sinais da Esperança que não engana. Essa Esperança é uma âncora na nossa vida. Nesse final de dia, ainda celebrei a Missa das 19h com a comunidade e cantámos os parabéns, partilhando bolo, que ainda pude levar para o jantar com a família. A Esperança é sempre partilhada!
A terceira história aconteceu no dia 17 fevereiro. Estava em Lisboa e dirigia-me de carro de noite para um jantar em casa de uma família amiga. Enganei-me no caminho – coisa bastante comum! – e acabei por dar uma volta maior, subindo a Av. Infante Santo. Parecendo ver alguém caído no chão, junto à estrada, encostei o carro e saí. Encontrei um senhor idoso e debrucei-me sobre ele, percebendo logo a gravidade da situação. Imediatamente se juntaram mais algumas pessoas que iam a passar, para ajudar no socorro. Chamámos o 112 e naqueles minutos rezei baixinho com o Sr. António, segurando a sua cabeça e dando-lhe a mão. Já não estava lúcido. Quando os primeiros socorros chegaram, logo iniciaram as manobras de reanimação e massagem cardíaca e levaram o Sr. António para o hospital. Despedi-me dele, dos bombeiros e médicos e daquela pequena comunidade que se juntou ali à sua volta: um casal, uma criança, dois vizinhos e um senhor estrangeiro (talvez paquistanês, nepalês ou indiano?). No dia seguinte, a filha Raquel deu me a notícia da morte já no hospital e agradeceu por ter estado ao lado do Pai naqueles minutos. Compreendi que o meu erro no caminho não tinha sido apenas engano meu. A Esperança não se engana. Era preciso estar ao lado do Sr. António naquele momento em que as portas do Céu se abriam para ele.
Nos próximos dois meses, vamos caminhar em direção à Páscoa e depois em direção a Roma, para participar de 24 a 28 abril no Jubileu dos Adolescentes, com um grupo de 130 peregrinos das nossas paróquias. Estamos a organizar eventos e angariar fundos para ajudar os peregrinos a pagar a viagem. Precisamos e contamos com o vosso apoio e generosidade.
A Esperança vem da Páscoa!
Um abraço amigo do Padre Tiago