Queridos amigos, 

Neste mês de março, passámos da agitação das festas de Carnaval para o recolhimento da Quaresma, o tempo favorável para a conversão e uma escola de Esperança. Permitam-me que vos conte duas histórias que são luzes de Esperança. 

A primeira história é da Margarida e do Herman e começou há muito tempo, com inquietações existenciais passadas, mas tendo um episódio inesperado nas filmagens do programa de televisão «Por tudo e por nada», em setembro de 2024. Foi um programa gravado aqui na Ericeira, onde se liam ou ouviam críticas sobre estabelecimentos comerciais, restaurantes ou instituições e se dava oportunidade aos visados, que o desejassem, de acolher e responder a essa crítica, mostrando outra face. Participei também e fui entrevistado pela apresentadora Ana Guiomar, que me perguntou quais eram as críticas que habitualmente me dirigiam. Respondi algumas: a minha falta de pontualidade (entre tantos afazeres), a barriga que teima em crescer (culpa dos meus paroquianos, que me tratam tão bem!) e as peregrinações a Fátima de apenas dois dias (alguns queixam-se que deveríamos partir da Ericeira!). No final da filmagem, um dos assistentes de produção, de brinco na orelha, cabelo curto e sotaque do norte, veio ter comigo e pediu-me para assinar o papel que autorizava a transmissão das imagens. Perguntei-lhe como se chamava e lá me disse que era o Herman. «Herman José», completou. Perguntei se era familiar do famoso humorista, ao que me respondeu que não, mas que os pais eram admiradores do “Tal Canal” e lhe tinham dado esse nome. Contou-me ainda que estudava filosofia e eu disse-lhe como a filosofia é fundamental para a teologia e como a fé e a razão vão de mão dada. O Herman contou ainda que estudava na Universidade Nova de Lisboa e respondi-lhe que tinha um bom amigo que era lá professor. Quando lhe disse o nome do professor Nuno, o Herman ficou muito entusiasmado, porque era seu admirador e discípulo. Contei-lhe que o Nuno era um homem de Missa diária e muito amigo de Deus e o Herman ficou absolutamente espantado. «A sério? O professor Nuno é crente? E vai à Missa todos os dias?». Trocámos números de telefone e uma “selfie” e despedimo-nos. Umas semanas depois, o Herman enviou mensagem a perguntar se poderia vir aqui à Missa, com os pais e a mulher. Vieram num domingo às 12h e lá conheci os pais tão simpáticos, portadores de deficiência motora e deslocando-se de cadeira de rodas e com uma história extraordinária. Conheci também nessa ocasião a Margarida, namorada do Herman há vários anos. Nas semanas seguintes, os dois voltaram aqui diversas vezes e foram contando a história do seu namoro, marcado pelos obstáculos superados ao longo da vida do Herman, com as dificuldades dos pais, a mudança de casa ou a falta de casa, a carreira promissora em vários clubes no futebol de formação até se mudar para o Desportivo de Chaves, cidade onde conheceu a Margarida. Já no futebol profissional, o Herman optou por deixar a carreira, escolhendo os estudos e entre biscates, lá começou a fazer o curso de Filosofia. Num dos encontros, propus-lhes que a Margarida e o Herman casassem pela Igreja e que não seria preciso esperar mais tempo nem ter condições financeiras perfeitas. Pegando na agenda, lá chegámos à data de 1 de março. Assim, entre o curso de preparação do matrimónio, um retiro, confissões, conversas e Missas dominicais aqui na Ericeira, a Margarida e o Herman casaram no dia planeado, tendo como coro os nossos jovens, no meio de muita emoção e simplicidade. Muitos amigos presentes na Missa e na festa estavam surpreendidos com a conversão dos noivos e a sucessão destes eventos mas Deus sempre nos surpreende e mostra-nos que a Esperança não engana!   

A segunda história conta-se mais brevemente. Um casal de jovens cristãos brasileiros, a Beatriz (de educação católica) e o Lucas (de educação evangélica), namoravam mas tiveram de se separar em Mato Grosso do Sul, quando a Beatriz, já grávida, emigrou para Portugal em agosto de 2018. O menino Heitor nasceu em janeiro de 2019, mas o seu pai Lucas apenas pode vir para Portugal em maio de 2021, quando após vários dias de devota trintena a S. José, recebeu de forma surpreendente uma autorização especial para entrar no nosso país, deixando tudo para trás e confiando na Providência de Deus e na máxima «não vos preocupeis: buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo» (cf. Mt 6, 33). Nesse momento, começaram a vir juntos à Missa na Ericeira, Fonte Boa dos Nabos e Carvoeira, fazendo boas amizades na comunidade paroquial. Em janeiro de 2023, começámos a preparar o seu casamento e nesses anos foram nascendo entretanto mais três filhos sucessivamente, com alguma ligação a S. José e à data de 19 março – o menino mais novo, Lucas Josemaria nasceu precisamente a 19 março de 2024. Apesar do desejo de casar na Igreja, a Beatriz e o Lucas quase desesperavam por não haver forma de obter os papéis burocráticos necessários, até que finalmente tiveram licença para casar precisamente no dia de S. José, a 19 março de 2025, na igreja de S. André em Mafra, acompanhados pela família e os amigos da comunidade. De um dia para o outro, tudo se preparou e tudo Deus providenciou! O filho Heitor, com apenas 6 anos, fez de “coroinha” e dizia que o melhor conselho para o casamento era o Pai dar a aliança à Mãe e rezarem juntos a Deus para contar com a Sua ajuda! 

Este tempo de Quaresma prepara-nos para a Páscoa e recorda-nos que Deus espera muito mais de cada um de nós, mesmo quando outros já nada esperam e só desesperam. Em Deus, a meta da nossa vida estende-se sem termo, correspondendo àquela sede de plenitude e felicidade infinita presente no nosso coração. Embora tantas vezes sejamos injustamente capazes de esquecer o que o Senhor já fez por nós e até colocar em causa tanto, a memória agradecida das maravilhas de Deus na nossa vida leva-nos a crescer na Esperança que nos contagia e que não ilude. Aproveitemos esta Quaresma como Escola de Esperança para redescobrir a Esperança que Deus nos dá e simultaneamente deposita em cada um de nós. Deus convida-nos à conversão do coração, pessoal e comunitariamente, como nos pede o Papa Francisco na sua Mensagem de Quaresma. Nesse sentido, no Domingo, dia 23 de março, estivemos vários padres a atender em confissão durante a tarde e vieram cerca de 100 pessoas reconciliar-se com Deus na igreja de S. Pedro: tantos milagres e luzes de esperança! 

Nos próximos dias partimos em peregrinação até França e depois teremos as Celebrações da Semana Santa. Contamos convosco: da Cruz vem a nossa Esperança! 

Um abraço amigo do Padre Tiago