Queridos amigos,
É Natal! Nestas últimas semanas de Advento, entre a festa da Imaculada Conceição (que bom sairmos em procissão entre os pingos da chuva) e tantos gestos de generosidade, entre as festas de Natal da catequese das nossas paróquias e das instituições, permitam-me destacar o teatro de Natal a que assistimos na Festa do FAROL, com os voluntários e beneficiários (e até ouvimos músicas de Natal em ucraniano!). Nessa peça, encenada pelos alunos da ASEGEA (Universidade Sénior), fiquei impressionado com a figura do rei Herodes, que de modo tão teatral, fingia mostrar aos magos a sua vontade em adorar o Menino Rei que tinha acabado de nascer, mas que na verdade estava zangado e receoso com Aquele Rei. Às vezes, também somos assim: não permitimos que Deus entre na nossa vida e olhamos para Ele com desconfiança. Por vezes, até duvidamos que Ele tenha poder para mudar alguma coisa e para nos trazer a paz...
Numa outra festa, com as famílias da catequese da Ericeira, rimos à gargalhada com o espetáculo de Natal Got Talent, com as Três Pessoas da Santíssima Trindade como júri a avaliar as personagens que deveriam fazer parte do presépio. Lá aprovaram Maria, o Anjo Gabriel, Zacarias e Isabel, os burros, a estrela, o pastor e as ovelhas, os reis magos e o S. José! Descobrimos que é mesmo assim, com esse realismo de humanidade, que Deus veio mesmo para o meio desta “confusão”. Já na festa de Natal da catequese da Carvoeira, comovemo-nos com o avô que contava ao neto a história do Natal – sim, como acontecimento histórico! – e com as crianças que fizeram o presépio vivo, com músicas de Natal a acompanhar cada cena.
Faz-nos bem cantar músicas de Natal e contemplar o presépio, vendo ali todas as personagens à volta do Menino, que veio habitar mesmo no meio de nós. É tão bom olhar para os presépios espalhados pela vila e pelas casas de cada família e imaginarmo-nos também nós na cena, como naquela noite de Natal de há 2022 anos. No pequeno lugar de Belém, sem lugar em qualquer casa, Maria e José apenas encontraram um simples estábulo, onde nasceu o Menino Jesus, rodeado do burrinho e da vaquinha. Finalmente Se cumpria a profecia de Isaías: «uma virgem conceberá e dará à luz um filho que será chamado Emanuel, que quer dizer Deus connosco». Sim, Deus está connosco e deixa-Se ver finalmente, na fragilidade de um Bebé que chora, tem frio, fome e sede, mas dorme em paz, junto de Maria e de José. Diante deste Menino, capaz de despertar tanta ternura, todos nos calamos comovidos e temos compaixão. Este é o grande poder de Deus: Ele é capaz de transformar o coração mais endurecido e insensível com o Seu Amor, fazendo-Se tão pequenino e próximo de cada um de nós.
Poderíamos perguntar: mas porque é que Deus veio à Terra, tão pouco acolhedora, com tantas guerras, divisões, intrigas e perigos? A resposta é dada pelo evangelista S. João e foi muitas vezes repetida pelo nosso saudoso Cónego Armindo: «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho». Deus veio porque ama este mundo apaixonadamente e vem para nos ensinar a amar e a viver por amor. Vem porque não desiste de nós e o Seu Amor é mais forte!
Cada Natal recordamos este mistério de Deus, que Se mostra tão carente do nosso amor e que pede a nossa conversão. Cada Natal voltamos a ser pequeninos, como Deus Se fez, lembrando a nossa inocência e os nossos sonhos de crianças. Cada Natal voltamos atrás no tempo e temos saudades de tantos que celebraram o Natal connosco em anos anteriores. Cada Natal reconhecemos que podemos ser melhores, mais acolhedores e gratos para com Deus e para com todos. Cada Natal renovamos o propósito de recomeçar. Cada Natal, lembramos o desejo profundo de paz, daquela paz que só Deus pode dar.
Desejo-vos um Santo Natal e um bom ano novo, cheio de paz!
Um abraço amigo do padre Tiago