Queridos amigos,
Neste mês, quero partilhar convosco duas grandes alegrias: as festas de S. Sebastião e S. Vicente na Ericeira (de 20 a 22 janeiro) e a Missão País na Carvoeira (a decorrer de 21 a 28 janeiro). Precisamente agora, escrevo aqui no meio da alegria dos missionários, pressionado pelo prazo da entrega do texto como sempre!
À semelhança de anos anteriores, comemorámos «S. Sebastião e S. Vicente, claro e quente». Tivemos Missa de festa no sábado, dia 20, com animação do coro do Renovamento Carismático. À noite, convidámos os homens para um jantar de homens, solteiros e casados, pois S. Sebastião era o padroeiro da antiga Confraria dos Rapazes Solteiros. Com graça, um dos homens que desafiei a ajudar na organização do jantar disse-me: «O quê? Um jantar só com homens? Isso é impossível! Nós precisamos de mulheres para organizar isso!» Também uma paroquiana, com sentido de humor (e alguns ciúmes?), me disse: «Padre Tiago, reserve já o salão para a próxima jantarada: vamos ser só mulheres!» (e acho muito bem, respondi). Na verdade, foi um jantar muito animado com jagozes e ericeirenses e, entre o porco no espeto, as sobremesas e o bom vinho, houve tempo para os homens falarem de tudo – até da nostalgia da catequese de há tantos anos no salão paroquial, com as mesmas cadeiras de sempre – e também das tradições da Ericeira.
A festa de S. Sebastião e S. Vicente continuou no domingo com as Missas com presença da imagem de S. Sebastião e na 2ª feira concluímos com a celebração da Missa festiva de S. Vicente, na capela de S. Sebastião, seguida de animação musical e o copo de vinho com a bolacha. Alguns dos festeiros lamentaram por não haver procissão este ano e partilho convosco essa tristeza, que simultaneamente me deixou contente: é sinal de que sentimos falta desta procissão, que não realizou durante muitos anos e que temos tentado restaurar. Está na hora e contamos com a vossa ajuda! Foi muito bom ver a alegria do convívio de tantos jagozes e ericeirenses e até pessoas de fora, mas realmente podemos fazer ainda mais!
A propósito destas «Festas de S. Sebastião e S. Vicente, claro e quente», é fundamental reflectir sobre o rumo da Ericeira. Entre o carisma das gentes e dos pescadores, a força e beleza da nossa terra e do nosso mar e a característica das nossas ondas, a riqueza da nossa história religiosa e profana (a caneja e outra gastronomia aqui incluída), tanto dá identidade à nossa vila e reconhecemos facilmente razões para a Ericeira estar a crescer tão rapidamente, atraindo a tantos. A conquista de reconhecimento através dos recentes prémios internacionais aumentará ainda mais o número de visitantes e precisamos de criar condições para continuar a acolher bem a tantos que aqui passam uns dias ou escolhem mesmo viver, trazendo consigo a riqueza de maior diversidade cultural. São já milhares os «Expats» que residem aqui na Ericeira e arredores e a estes adicionam-se os muitos surfistas e os outros turistas, tornando a Ericeira um lugar cada vez mais cosmopolita. Neste enorme crescimento da Ericeira, corremos o risco de ficar dispersos (ou já estamos) e divididos e de nos tornarmos desconhecidos e anónimos uns aos outros. Precisamos de nos reunir e de pensar juntos o presente e futuro, envolvendo todas as instituições e forças vivas da vila. Desse modo, do esforço conjunto, poderemos garantir que aqui cabem mais velhos e mais novos (enfrentando o problema da habitação, comum a tantas outras vilas e cidades), assegurando os cuidados sociais a famílias carenciadas e idosos (a quem tanto devemos!), promovendo uma maior proximidade intergeracional, que permita a transmissão da «alma jagoza» aos mais novos e recém-chegados – passando pela cultura mas também pela educação nas escolas, onde se deverá promover essa tradição e participação das crianças e jovens nos eventos festivos da terra. Vale a pena pensar na nossa vila piscatória!
Na Carvoeira, decorre a Missão País, entre 21 e 28 janeiro. Tão bem acolhidos na Escola e na sede de Fonte Boa da Brincosa estão 60 jovens, quase todos estudantes da Universidade Católica, uns com mais fé, outros com mais dúvidas, todos com muita generosidade. Identificados com a t-shirt da missão e com a cruz ao peito, olho para estes jovens e revejo-me neles com nostalgia. Quando eu era jovem estudante de Economia, participei na Missão País em 2006, 2007 e 2008 em Montemor e Arraiolos. Agora, como padre, acompanho a Missão País desde 2017 (3 anos na Ericeira, 4 anos no Gradil, agora aqui na Carvoeira) e os jovens universitários vão-se renovando e também renovam o meu entusiasmo pela missão. É muito engraçado constatar como os missionários deixam um rasto de alegria e fé por onde passam, mas também cada terra e cada pessoa deixa um rasto no coração dos jovens. Nunca mais esqueci Montemor e Arraiolos e há uns anos recebi uma chamada inesperada de uma senhora de Arraiolos que queria saber como eu estava… tinha gravado o meu número num papel desde 2008 e ligou-me mais de 10 anos depois, sem fazer ideia de que eu já era padre! Também há poucos dias recebi com muita alegria a notícia do nascimento do primeiro bebé da Vera e do António, jovem casal que começou a namorar pouco depois da Missão País de 2017 na Ericeira e que desde então vieram aqui à Ericeira várias vezes e fui acompanhando até os casar em 2022. As missões dão realmente muitos frutos e lembro-me bem de como testemunhei milagres nas minhas primeiras missões: na altura, fiquei impressionado com a imagem da Mãe peregrina, que sempre levamos ao colo, que realmente abre tantas portas, capaz de tocar o coração da senhora Custódia e seu filho Alexandre. Quando descobrimos este poder, percebemos também que a missão não é só obra nossa, mas somos enviados por Deus que age por meio de nós. E por isso cantamos tão contentes com os missionários: «Mas que descanso é viver a morrer todos os dias, por ir contra o próprio querer e esquecer o que se queria e querer o que Deus quer… Queira eu o que Deus quer!»
O texto já vai longo e tenho de voltar à missão. Aliás, recebemos todos essa missão na Ericeira e na Carvoeira: ser pescadores de homens, com rede ou à linha! Para o próximo mês conto mais novidades, se Deus quiser!
Um abraço amigo do padre Tiago