Queridos amigos,
Neste mês de outubro, quero escrever-vos sobre três acontecimentos, por ordem cronológica: a festa de abertura do ano pastoral, a peregrinação a Fátima a pé e a celebração da memória do Papa S. João Paulo II.
No dia 5, tivemos a Festa de Abertura do novo Ano Pastoral 2024/25, no Parque de Santa Marta. Foi muito entusiasmante ver a adesão dos vários grupos da paróquia, cada qual com a sua banca de apresentação: Catequese, Escuteiros, Peregrinos, Irmãs Servas de Nossa Senhora de Fátima, Equipas de Nossa Senhora (casais) e Equipas de Jovens de Nossa Senhora, Leitores e Ministros da Comunhão, Acólitos, Coro dos Pais e Amigos, Carismáticos e Imigrantes de Fé, entre outros, mostraram a diversidade de grupos e carismas dentro da nossa comunidade. Além do convívio ao redor das bancas, tivemos um lanche partilhado, a aguardada peça de teatro das crianças e a Missa campal, seguida de concerto final acompanhado de sopa. Durante a Missa, na homilia, dei conta do Plano Pastoral nas nossas Paróquias, marcado pelo Jubileu ordinário de 2025 proclamado pelo Papa Francisco com o lema «Peregrinos da Esperança», pelo repto à urgência da missão lançado pelo nosso Patriarca D. Rui Valério e pelos nossos desafios pastorais locais. Escolhemos como lema as palavras de Jesus dirigidas a Simão Pedro, depois daquela noite de fracasso e da pesca milagrosa: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens!» (cf. Lc 5, 10). Com este lema, queremos exortar a um renovado empenho de cada membro da nossa comunidade na missão de «pescar» todos, todos, todos para esta grande Rede que é a Igreja, a família de Deus. Esta Rede é uma imagem muito certeira da Igreja e da conversão que precisamos de alcançar na Ericeira, na Carvoeira e no mundo inteiro, passando do eu – do comodismo e do egoísmo, centrado em si mesmo e no interesse pessoal – ao nós – no desafio permanente do compromisso comunitário integral uns com os outros. Esta rede, de que já somos parte, e que queremos lançar, para pescar todos os outros, precisa de cada um dos nós que a compõem. Enredados nestes nós, uns nos outros e em Deus, queremos assim crescer 1) na proximidade com Jesus, contemplando-O cada dia na Adoração, nos Sacramentos e nas diversas propostas de peregrinação, 2) na proximidade com os outros, a quem queremos «pescar» pela evangelização (com propostas de conferências e da catequese para crianças, adolescentes ou adultos) e 3) a quem queremos servir (sobretudo através do FAROL) e 4) com quem queremos caminhar juntos na fé. Neste ano jubilar, ganha destaque a intenção de realizar a peregrinação a Roma e atravessar a Porta Santa com os adolescentes (24-28 Abril), os jovens (25 julho-5 agosto) e com os catequistas (25-28 setembro 2025). Podem ver este plano pastoral no site da paróquia em www.paroquiadaericeira.pt.
Depois, nos dias 11 e 12 peregrinámos até Fátima a pé, com um grupo de 80 peregrinos, corajosos a enfrentar as previsões meteorológicas adversas e as dificuldades do caminho. O nosso patrono S. Pedro foi muito nosso amigo, de tal maneira que nem apanhámos assim tanta chuva, nesta peregrinação abençoada que nos lavou a alma! Partindo de Santarém, tão bem acompanhados pela fantástica equipa de carros de apoio, dormimos no Covão do Feto, ouvimos o testemunho extraordinário da Olena, atravessámos a serra de S. António apanhando uma pedra na mão, rezámos, rimos, chorámos, entre confissões, conversas e conversões… e finalmente chegámos! Nossa Senhora é a grande pescadora de homens e de um modo misterioso vai cativando os corações de muitos, atraídos a fazer este caminho exterior e interior até Fátima. Ela veio lembrar-nos aí que precisamos de rezar o Terço todos os dias e de contar com a Sua intercessão de Mãe para levar a bom porto a missão que o Seu Filho Jesus nos confia: pescar todos para esta Rede, de modo que nenhum se perca. «Vai lá ver… se está a chover!» Se Deus quiser, em Maio voltaremos!
Por fim, permitam-me fazer referência a alguém profundamente ligado a Nossa Senhora de Fátima. Celebrámos no dia 22 outubro a memória litúrgica do Papa S. João Paulo II: é um santo missionário dos nossos dias, cuja vida nos convence da verdade da fé católica, que recordamos com saudade e que podemos rever em tantos textos e vídeos no YouTube. Nesse dia 22, rezámos o terço com os idosos da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira e contemplámos os mistérios da vida de S. João Paulo II. Após uma gravidez difícil, ele nasceu em 1920 em Wadowice (Polónia) e os seus pais, com vida admirável de profunda fé e em processo de beatificação, quiseram dar-lhe o nome de Karol, em homenagem ao Beato Carlos de Áustria. Na infância, ficou órfão de mãe com 8 anos e nessa altura, recorreu a Nossa Senhora, a Quem pedia proteção e dizia “Totus Tuus” (“sou todo Teu”). Na juventude, perdeu ainda o pai e o irmão, ficando só mas tendo uma fé católica que lhe garantia uma companhia permanente. Era desportista, integrou vários grupos de teatro, estudou línguas e os seus estudos universitários foram interrompidos pela invasão nazi à Polónia, sendo forçado a trabalhar numa mina e numa fábrica. Mesmo neste contexto adverso, encontrou os sinais da vocação e seria ordenado sacerdote em 1946, já com a Polónica sob ocupação comunista soviética. A propósito da vocação, vale a pena ouvir a música da Barca, que ele tanto gostava. Tinha especial gosto na pastoral juvenil e era tratado por “tio” pelos jovens. Foi ordenado bispo e participou ainda no Concílio Vaticano II, permanecendo Arcebispo de Cracóvia até 1978. Nesse ano dos três Papas, sucedeu ao Papa Paulo VI (falecido em agosto) e ao Papa João Paulo I (falecido em setembro, num pontificado de apenas 33 dias), tomando o nome de João Paulo II e proferindo palavras marcantes na homilia da primeira Missa: «Não tenhais medo! Abri, aliás, escancarai as portas a Cristo!». Estas palavras proféticas – agora transformadas num belíssimo hino que podem ouvir – tornar-se-iam decisivas para a libertação da Polónia do comunismo, para a queda do muro de Berlim e para o fim da União Soviética. O seu pontificado ficaria ligado a Fátima pelo atentado sofrido a 13 maio de 1981, ao qual sobreviveu por milagre da mão de Nossa Senhora, que desviou a bala disparada pelo terrorista Ali Agca. Tão grato a Nossa Senhora de Fátima e à oração dos Pastorinhos, o Papa veio a Portugal em 1982, 1991 e 2000 (ano da beatificação dos pastorinhos). Lembro-me de ser criança (tinha 5 anos!) e de sair de casa a correr até à rua porque o Papa iria passar ali! E lembro-me muito bem de ver o Papa João Paulo II na Cova da Iria no ano 2000, no meio de uma multidão em silêncio arrepiante enquanto ele rezava. Por fim, o Papa jovem dos primeiros anos e das catequeses da Teologia do Corpo (procurem ler sobre isto!) tornar-se-ia o Papa fragilizado pela doença de Parkinson e pela idade avançada, impressionando pela sua férrea vontade de dar a vida até ao fim. Depois de tantas viagens missionárias e tantas Jornadas Mundiais da Juventude, é inesquecível a sua despedida à janela, já sem conseguir falar, até morrer no dia 2 abril de 2005. Esse foi o dia da minha conversão.
Um abraço amigo do padre Tiago