Artigo de Bishop Robert Barron
Em apenas algumas semanas, ordenarei três homens ao sacerdócio na Diocese de Winona-Rochester (USA). Ordenar padres é o maior privilégio que tenho como bispo. Ponto final. Quando, no ponto alto da cerimónia, puser as mãos sobre as cabeças dos diáconos e invocar o Espírito Santo sobre eles, estarei a seguir a tradição dos Apóstolos, que da mesma forma impuseram as mãos sobre aqueles a quem transmitiram autoridade. Posso testemunhar que nunca nada na minha vida me fez sentir mais humilde e mais grato. Há três grandes promessas que um homem faz quando aceita a ordenação diaconal e depois a sacerdotal, e cada uma delas é um maravilhoso contra-sinal à nossa cultura atual. Primeiro, promete recitar fielmente a Liturgia das Horas, essa maravilhosa compilação de Salmos, hinos e orações, oferecida em cinco momentos ao longo do dia. Tenho-me dedicado a esta oração nos últimos trinta e oito anos do meu sacerdócio e posso testemunhar que, embora por vezes seja um desafio, tem sido uma tremenda fonte de força espiritual. Trata-se, para o dizer de forma simples, de uma consagração constante e consciente do tempo.
Ordenar padres é o maior privilégio que tenho como bispo. Ponto final.
Como muitos estudos têm demonstrado, os jovens de hoje no Ocidente estão rapidamente a secularizar-se e a desligar-se das igrejas institucionais. Eles constituem, como Charles Taylor argumentou, a primeira geração literalmente na história da humanidade que está a atingir a maioridade sem um sentido agudo do transcendente. E, como tenho vindo a insistir há anos, este esvaziamento do sagrado tem causado estragos nas mentes, nos corações e almas desta geração, entre os quais os números que medem a ansiedade, a depressão e a ideação suicida têm vindo a aumentar. Por isso, quando um jovem faz uma promessa solene perante Deus e a sua comunidade de que irá, para o resto da sua vida, rezar a Liturgia das Horas todos os dias, está a opor-se a este secularismo que mata a alma. Está a declarar que Deus existe e que Deus é importante.
A segunda promessa que um homem faz é a de viver celibatário. Sei que já foi dito milhares de vezes, mas vale a pena repetir: O celibato não é uma negação do sexo e do matrimónio! Devemos sempre evitar uma interpretação dualista ou platonizante do celibato, segundo a qual a renúncia ao matrimónio é interpretada como uma espécie de julgamento sobre as necessidades físicas ou o prazer. Qual é, então, a maneira correcta de pensar o celibato? É, em primeiro lugar, um caminho de liberdade. Desvinculado da esposa e dos filhos - e de todas as responsabilidades que lhes são inerentes – o homem celibatário pode dedicar-se inteiramente a Deus e ao povo que serve. Enquanto escrevo estas palavras, olho para o meu anel episcopal, que não é apenas um sinal do meu cargo, mas também uma aliança de casamento, pois assinala a minha devoção sem limites ao povo que o Senhor me confiou. São Paulo ensina claramente que: “O solteiro preocupa-se com os assuntos do Senhor, em agradar ao Senhor; mas o casado preocupa-se com os assuntos mundanos, em agradar à mulher, e os seus interesses dividem-se” (1 Cor 7, 32-34). Além disso, o celibato é um testemunho, mesmo agora, da forma como amaremos no céu, onde, como o próprio Jesus disse, “não nos casamos nem somos dados em casamento”. Isto não significa, evidentemente, que o amor celeste seja menor do que o amor conjugal cá em baixo; pelo contrário, é maior, mais intenso, mais pleno e mais rico. Como é indispensável que, numa sociedade praticamente obcecada pelo sexo e pela liberdade sexual, existam, entre nós, homens que encarnam uma forma espiritualizada de amor.
A terceira e última promessa que um homem faz na sua ordenação é a de obedecer ao seu bispo. “Prometo obediência a ti e aos teus sucessores”, diz ele enquanto coloca as suas mãos, à maneira de um vassalo feudal, nas mãos do prelado ordenante. Lembro-me perfeitamente de quando fiz isto no dia da minha ordenação, colocando as minhas mãos nas do Cardeal Joseph Bernardin de Chicago, que eu mal conhecia, e jurando fazer, dentro dos limites da lei e da moral, tudo o que ele ou os seus sucessores, não nomeados e desconhecidos, me pedissem para fazer. Naquele momento, renunciei à minha “carreira”, ou seja, a qualquer itinerário ou trajetória que tivesse traçado para mim. Coloquei a minha vida nas mãos do meu bispo, confiando que, através da sua vontade, o Espírito Santo me orientaria. Mais uma vez, como este gesto parece estranho hoje em dia! Um dos valores mais fundamentais para as pessoas de hoje é a autodeterminação, e não apenas no que diz respeito à direção da sua vida, mas ao seu próprio significado. Tenho-me referido muitas vezes à nossa cultura como “a cultura da auto-invenção”. Chegámos mesmo ao ponto em que a determinação do género e da identidade corporal de cada um é inteiramente uma questão de escolha pessoal. Enquanto que a posição predefinida da maioria dos jovens de hoje é que as suas vidas lhes pertencem inteiramente, o padre, no dia da sua ordenação, diz que a sua vida não lhe pertence de todo, mas sim a Deus e para os objectivos de Deus.
Se estiver nas redondezas de Winona no dia 8 de junho, convido-o a vir à bela basílica de Santo Estanislau Kostka e a assistir a um compromisso alegre e muito contracultural de três jovens.
Tradução livre de Maria do Rosário H. Mc Kinney