Artigo do Bispo Robert Barron
No mês de maio, o meu site “Word on Fire” lançou o seguinte desafio: rezar 50.000 terços em nome daqueles que se afastaram da Igreja. O convite foi generalizado e a resposta foi incrível. Rezaram-se mais de 90.000 terços. Para o mês de julho, “Word on Fire”pediu 10.000 Horas Santas para rezar pelo êxito do Reavivamento Eucarístico Nacional. No momento em que escrevo estas linhas – a um terço do mês de julho – já foram oferecidas 5.000.
A Hora Santa é uma prática intimamente associada ao grande Arcebispo Fulton Sheen. No final de cada conferência que Sheen dava aos sacerdotes, desafiava os seus irmãos a passarem, todos os dias, uma hora de oração ininterrupta na presença do Santíssimo Sacramento. Embora a Hora Santa não tenha sido enfatizada quando a minha geração estava a frequentar o seminário, foi entusiasticamente abraçada pela atual geração de seminaristas e jovens padres - e, através deles, começou a ter um efeito poderoso em toda a Igreja. Em três dioceses muito diferentes - Chicago, Los Angeles e agora Winona-Rochester. Tenho visto paróquias completamente transformadas pela prática regular da Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Alguns fizeram críticas às campanhas do “Word on Fire”: Acham mesmo que Deus será persuadido pelo número de orações e terços oferecidos, diziam. Bom, isso não era o objetivo. O objetivo da campanha não era tanto influenciar Deus, mas encorajar as pessoas a rezar, a elevar as suas mentes e corações a Deus. Isto, como tenho vindo a defender há anos, é hoje de importância primordial, já que o secularismo se apoderou de tantas pessoas no Ocidente, especialmente dos jovens. Estes dias mais calmos de verão proporcionam uma maior oportunidade para rezar, para descansar no Senhor, para considerar as coisas mais elevadas e mais profundas.
Já antes tinha mencionado duas práticas de oração, mas permitam-me que vos recomende outras, sobretudo se estiveram afastados da oração desde há algum tempo. Em primeiro lugar, rezar com as Escrituras, utilizando aquilo a que a tradição espiritual chama “lectio divina”( leitura divina). Não há texto mais central, mais sagrado, mais inspirado do que a própria Bíblia. Na sua Primeira Carta a Timóteo, S. Paulo refere-se à Bíblia como theopneustos, literalmente, "inspirada por Deus". Quer dizer que o Espírito Santo (termo que significa "sopro sagrado") sopra através das suas palavras, das suas imagens, das suas narrativas. Portanto, se quere entrar em contacto com esse Espírito, abra a Bíblia. Mas aproxima-se dela, não esporadicamente, mas de uma forma espiritualmente disciplinada.
A “lectio divina” é um método em quatro etapas. Primeiro, lê-se uma passagem das Escrituras lentamente e com grande atenção. Chama-se a isto "lectio". Em seguida, "mastiga-se" o texto, reflectindo sobre ele, permitindo que as suas imagens e ideias penetrem no nosso espírito. Chama-se a isto "meditatio". Em terceiro lugar, depois de ter ouvido a palavra, fala -se com Deus; diz-se-Lhe de que modo o texto lhe tocou. Chama-se a isto "oratio". Finalmente, depois de ter falado com Deus, escute profundamente o que Ele tem para lhe dizer. Este compromisso mais elevado com a Bíblia chama-se "contemplatio". Experimente este método durante estes meses de verão, tendo o cuidado de escolher uma passagem da Bíblia relativamente curta.
Vi paróquias completamente transformadas pela prática regular da Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Um segundo método que eu surgeriria é o que a tradição chama de "oração contemplativa". Procure um lugar sossegado, concentre-se, fixe o seu olhar numa imagem do Senhor ou num crucifixo. Depois, imagine todos os elementos da sua vida - as suas amizades, o seu trabalho, os seus filhos, as suas diversões, os seus compromissos políticos, etc. e coloque-os conscientemente em conexão com Jesus. Talvez possa imaginar uma rosácea em que todos os elementos do desenho estão ligados por diversos raios ao centro. Na presença de Deus, avalie honestamente até que ponto os vários aspectos da sua vida estão sob o senhorio de Jesus, estão verdadeiramente ligados a ele. Os grandes mestres espirituais ensinam-nos que a prática constante deste tipo de oração produz de facto a unidade e a harmonia que procuramos. Há muitos anos, um jovem aproximou-se de mim e, sem me falar muito de si, pediu-me simplesmente recomendações sobre como rezar. Dei-lhe uma instrução básica sobre a oração contemplativa. Cerca de um mês depois, ele voltou e disse, de forma bastante simples: "Tenho de deixar de ter relações sexuais promíscuas!" Eu não sabia nada sobre a sua vida sexual e não lhe tinha dado qualquer conselho; a oração em si tinha alinhado um aspeto fundamental da sua vida.
Uma última sugestão que ofereço, especialmente àqueles que não têm uma relação forte nem com a igreja, nem com a liturgia nem com a prática da oração. Use a natureza como estímulo para rezar. Os grandes santos - Francisco de Assis, João Paulo II, Giorgio Frassati - adoravam comungar com Deus no meio das glórias do mundo natural. Frassati era um alpinista (daí o seu lema espiritual, “Verso l'alto”, (para as alturas); João Paulo II gostava de esquiar nas montanhas da Polónia e de Itália; e Francisco movia-se com entusiasmo pelos campos e florestas, chegando mesmo a pregar aos pássaros! Tomás de Aquino ensinava que tudo o que existe é marcado pela bondade, pela verdade e pela beleza. Por isso, dê um passeio pela natureza Talvez esteja mais perto do mar, do deserto, de uma floresta ou de um lago - não importa. Desloque-se para esse espaço e maravilhe-se com o esplendor, a clareza e o valor do que vê. Depois faça uma pergunta muito simples: De onde é que tudo isto veio? Ao colocarem esta questão, estão no patamar da oração.
Por isso, peço a todos que, durante estas semanas mais lânguidas do tempo de verão, reservem algum tempo para rezar.
Bispo Barron, publicado em Word on fire
Tradução livre de Maria do Rosário Homem Mc Kinney