Mark Bradford
Word on fire, 24 de Setembro de 2024
Numa das minhas viagens a Rochester, Minnesota, ao nosso estúdio “Word on Fire,” tive a oportunidade de fazer uma breve visita ao nosso diretor executivo, o P. Steve Grunow. Tivemos uma excelente conversa sobre as várias iniciativas que realizamos com a nossa congregação e, quando se afastou, virou-se para mim e disse-me: “Diga-lhes para pararem de matar os seus bebés!”
Bem, sempre que tenho a oportunidade, faço-o na mesma - como quando fui convidado a falar nas Nações Unidas, no dia Mundial da Síndrome de Down, a 21 de março deste ano , mas as palavras do P. Steve Grunow, de há alguns meses atrás, nunca mais deixaram de ecoar na minha memória. O seu comentário foi marcante. Era o imperativo de um homem impressionante e sábio, mas penso que, mais do que isso, o seu comentário não saiu do meu pensamento porque, mesmo na nossa cultura tão obcecada com a morte, dizer às pessoas para pararem de matar os seus bebés não é uma daquelas coisas que deveríamos ter de dizer. É o instinto de uma mãe proteger as suas crias - não é?
Por isso, enquanto me interrogava sobre o seu comentário, decidi fazer uma pesquisa online sobre: “Que animais fêmeas matam as suas crias?” A resposta gerada pela IA no topo da página deu-me a resposta: “Vários animais, como coelhos, hamsters, escaravelhos, ratos e humanos”. Ah, sim - os humanos também! Infelizmente, sabemos isso, não sabemos? De acordo com os “ Center for Disease Control and Prevention”(CDC), uma estimativa conservadora aponta para que 625.978 bebês tenham sido mortos por abortos nos EUA, no ano de 2021. Esse número não toma em consideração a disponibilidade generalizada da “pílula do dia seguinte” e o impacto que ela certamente teve na vida embrionária. Infelizmente, muitos estão felizes por estarem na companhia bárbara de escaravelhos e ratos. Eles são criaturas sem alma, mas nós? Mesmo quando o Salmo 8 nos lembra que fomos feitos …”pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste…a nossa cultura da morte esqueceu-se de quem somos. Somos como os israelitas crepusculares que - enquanto Moisés estava no Monte Sinai a falar com Deus e a receber os Dez Mandamentos - clamavam pelas panelas de carne do Egito (Êxodo 16) e converteram a sua glória na figura de um boi que come erva” (Salmo 106:20). Mas o nosso triste e patético “ego” é muito pior. Trocamos a glória de Deus por uma imagem de Moloque, que come os bebés que lhe são sacrificados em troca de prosperidade.
Despertem! Não somos criaturas sem alma como os escaravelhos e os ratos. Fomos feitos criaturas de Deus, com uma alma sobre a qual foi escrita uma lei da natureza, e essa lei diz que as mães humanas protegem as suas crias. Não as oferecem aos falsos deuses da nossa conveniência: os deuses da prosperidade, da propriedade, do prestígio e da perfeição.
A criança é tratada como um produto, a ser descartado se não corresponder aos padrões do fabricante.
Cada sacrifício de uma criança através do aborto e do infanticídio é um pecado horrível que clama ao céu por vingança (ver Gn 4:10). Mas, se nos atrevermos a categorizar os abortos, existem aqueles cometidos por conveniência ou para apagar as consequências dos nossos “erros” fortuitos, e existem aqueles cometidos seletivamente – isto é, para eliminar uma criança porque há algo nela que não queremos aceitar. Esses abortos geralmente ocorrem após um diagnóstico pré-natal que identifica alguma característica genética como a síndrome de Dawn.
Recentemente, lia umas pesquisas sobre o uso pré-natal dos testes de Microarray e a primeira frase de um dos artigos era esta: “O defeito congênito é a principal causa de morte infantil e um fator importante de deficiência infantil e que afeta a qualidade da população.” Convém voltar a ler esta citação e parar por um momento. Pessoas com síndrome de Dawn, espinha bífida, paralisia cerebral, síndrome do X frágil, etc., são fatores que afetam a “qualidade da população” e os testes de Microarray podem dar a solução: identificar o inimigo e destruí-lo.
É certo que este artigo abordava uma investigação realizada por cientistas na China e não nos EUA, por isso sabemos que há uma diferença de valores culturais e provavelmente a ausência de critérios religiosos para pôr freio a tais conclusões. Mas a investigação foi publicada numa grande revista da especialidade, o “International Journal of General Medicine”. Os cientistas não têm, claramente, qualquer problema em promover a eugenia junto da comunidade médica internacional.
A isto chama-se eugenia, certo? É o processo científico de melhorar o património genético de uma população através da seleção e esterilização ou eliminação de caraterísticas indesejáveis. Nos Estados Unidos, no início do século XX, já o estávamos a fazer em grande escala, e até temos um caso lendário do Supremo Tribunal que o prova. Foi o caso Buck vs. Bell (1927) que apoiou a esterilização de Carrie Buck porque “três gerações de imbecis são suficientes”, pelo menos de acordo com o presidente do Supremo Tribunal, Oliver Wendell Holmes Jr., que redigiu a opinião maioritária apoiada por todos os juízes associados, exceto um. O único dissidente foi Pierce Butler, um católico devoto.
O programa americano de eugenia do início do século XX era tão conhecido e respeitado que o Terceiro Reich, na Alemanha, chegou a olhar para nós para instruir o seu próprio projeto de esterilização eugénica. Na década de 1930, modelou a sua “Lei para a Prevenção da Prole com Doenças Hereditárias” com base nas leis em vigor na Califórnia e em Indiana. O principal arquiteto dessas leis foi o americano Harry Laughlin, que recebeu um doutoramento honorário da Universidade de Heidelberg pelo seu trabalho sobre “higiene racial” em 1936.
Como o Dr. Felipe E. Vizcarrondo escreveu no “The Linacre Quarterly em 2014, “A nova eugenia ... continua a perseguir o mesmo objetivo que a velha eugenia, o desenvolvimento de um indivíduo superior”. Acrescenta: Os pais que utilizam tecnologias genéticas reprodutivas ( como a FIV e os testes de Microarray ] não pretendem melhorar uma caraterística indesejável, mas sim evitá-la. Para evitar a manifestação da caraterística indesejável, o embrião ou feto “defeituoso” é destruído. . . . A criança é tratada como um produto, a ser descartado se não corresponder aos padrões do fabricante. A nova eugenia não mostra qualquer preocupação em preservar a vida de uma criança considerada inferior.
Escrevi na secção “Evangelization & Culture Online”, do site “Word on fire”, no final de dezembro de 2023, um artigo sobre os chamados “pronatalistas,” aqueles que estão a utilizar estas tecnologias para terem muitos filhos, que têm quase a certeza de que serão saudáveis e sem deficiências ou doenças. Tentam resolver a nossa crise demográfica, auto-infligida, procurando ser generosos no que respeita ao número ded filhos, mas não o fazem de uma forma natural. Isso seria demasiado arriscado, dizem. A sua busca de filhos perfeitos é eugênica. Utilizam tecnologias reprodutivas como a fertilização in vitro e tos estes de risco poligénico para selecionar um embrião perfeito do seu menu de opções e produzir uma criança “perfeita”.
Tudo isto é horrível e difícil de conceber, não é? Mas esta é a nossa realidade. Claro que somos muito mais sofisticados do que os escaravelhos, hamsters e ratos que mencionei acima, que também matam as suas crias. Presumivelmente, fazem-no por outras razões ou, pelo menos, após algum tipo de deliberação muito mais simplista. Nós, porém, somos sofisticados. Usamos a ciência para procurar e justificar a nossa destruição, do que decidimos ser indesejável e não queremos assumir a paternidade. Afinal de contas, é para o bem da sociedade, não é? É nisso que os novos eugenistas nos querem fazer acreditar. Mas, por mais que tentemos, Moloque não é apaziguado. As suas mãos nunca estão vazias, e mesmo assim a sua sede de sangue é insaciável. Por isso, para já, não temos outra alternativa. Até Jesus voltar para resolver esta confusão com a sua misericórdia e justiça, por favor, juntem-se a mim e continuem a gritar em todas as oportunidades: “Parem de matar os vossos bebés!”
Tradução livre de Maria do Rosário H. Mckinney